quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A importância da mídia na sociedade contemporânea

Há muito, temos falado da importância da mídia na sociedade contemporânea. Desta feita, o que está em pauta é a espetacularização de mais um, dos milhares de casos de violência, que cotidianamente ocorrem no continental território brasileiro...

O que tentamos chamar atenção é que a mídia, em suas diversas formas de manifestação para a sociedade atual tem fundamental importância no processo de modernização, produção e sedimentação da democracia mundial. No entanto,  precisamos ficar atentos a esse mote de audiência que os eventos violentos dão a esses meios de comunicação, inclusive porque podem funcionam como catalizador de incremento de posturas violentas e fanáticas. (Nesses episódios, geralmente surgem os bodes-expiatórios, dois quais já falamos nas nossas primeiras postagens, e também dos eternos salvadores-da-pátria, que parecem ressurgir das cinzas, como aqueles fantasmas de filmes infantis de terror, que nunca morrem!).

Nessa perspectiva, em sociedades em que a banalização da violência se torna campeã de audiência, precisamos ficar alertas às ondas de violência e de salvação instantânea dos males sociais, que ciclicamente aparecem, sempre que um novo acontecimento abala os sentimentos das pessoas. Temos dito, inclusive corroborando com as lições do professor ZAVERUCHA (2005), que a (In)segurança parece agradar (beneficiar) muitos setores da sociedade. Na manhã de hoje, quando assistia a um dos primeiros jornais matinais, uma reporte fazia uma matéria em nível nacional, informando acerca do julgamento do caso Eloá. A ênfase e a empolgação era tamanha dessa "jornalista", que ela mais parecia transmitir uma final de Copa do Mundo, com o Brasil sendo o favorito, do que transmitindo um júri popular de um assassino.

Segue logo abaixo a matéria jornalística sobre o caso em comento, em que todos querem defender o seu papel principal (seu protagonismo social, of course!), nesse caso, que é tão corriqueiro (de violência doméstica), mas que em virtude da forma como fora transmitido, ao vivo, e em rede nacional, tornou-se um reality show.

Num país em que o educação, a saúde e a segurança, para citar os direitos mais fundamentais, vivem em estado de calamidade, a impressa nacional volta os olhos para um crime, que mostra, como dissemos anteriormente, a violência doméstica que assola as mulheres desse país, mas que jamais terão a visibilidade desse caso. (Durma-se com esse barulho!)


Lindemberg disse "matei, matei" após invasão, afirma PM em júri

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ANDRÉ MONTEIRO
TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO

O tenente da PM Paulo Sérgio Squiavo afirmou em depoimento nesta quarta-feira que Lindemberg Alves Fernandes, 25, disse "matei, matei, mas estou vivo" logo após a polícia invadir o apartamento em que ele manteve a ex-namorada Eloá Pimentel, 15, em cárcere por mais de cem horas em 2008. Lindemberg está sendo julgado em Santo André (Grande SP) pela morte da menina.
Rivaldo Gomes/Folhapress
Advogada de Lindemberg, Ana Lúcia Assad, deixa o Fórum de Santo André ao som de vaias; júri será retomado hoje
Advogada de Lindemberg, Ana Lúcia Assad, deixa o Fórum de Santo André ao som de vaias; júri será retomado hoje
Squiavo foi a última testemunha a depor. Segundo o tenente, que liderou a equipe que invadiu o apartamento, o rapaz largou a arma logo após os disparos, mas resistiu à prisão. Ele afirmou ainda que a invasão aconteceu apenas após ter ouvido um disparo de arma de fogo no imóvel.
A invasão aconteceu cinco dias após Lindemberg render Eloá e sua amiga, Nayara Rodrigues. As duas foram baleadas após a invasão da polícia. Eloá, que era ex-namorada do réu, foi socorrida, mas não resistiu aos ferimentos.
Segundo o tenente, a equipe responsável pelo gerenciamento da crise disse que as negociações não estavam avançando e que Lindemberg havia manifestado disposição de matar a refém. Com isso, foi determinado que se houvesse "um risco insuportável às vítimas" a equipe tática deveria intervir.
HOSTILIDADE
Ao ser retomado o julgamento na manhã desta quarta-feira, a promotora Daniela Hashimoto pediu para que as pessoas não hostilizassem a advogada de Lindemberg, Ana Lúcia Assad. Ela disse que o público não pode confundir os atos do réu com o trabalho da defesa.
A advogada de Lindemberg já tinha pedido, quando chegou ao fórum, para que não fosse hostilizada. "Não sou a acusada, apenas estou garantindo o direito de defesa de Lindemberg", afirmou ela.
Ontem, Assad vaiada na frente do fórum e criticou a imprensa. "A imprensa está sendo leviana comigo e isso está colocando minha vida em risco", afirmou.





Para um maior aprofundamento acerca da banalização da violência e criação de mitos veja:

SOUZA FILHO, Alípio. Medo, mito e castigos:notas sobre a pena de morte. São Paulo: Corte, 2001.

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