sexta-feira, 29 de junho de 2012

Será que existe crime organizado no RN? (Parte II)




Segue logo abaixo uma matéria do DN que dão pistas de noções de organização, em se tratando de crime organizado, do qual faz-se necessário esclarecer acontece muito mais sem violência do com com ela, como pensa a maioria da população.
Confiram e tirem suas próprias conclusões!

Edição de sexta-feira, 29 de junho de 2012 
Lobby em favor da Marca
Procurador municipal repassou informações privilegiadas para empresa
Paulo Nascimento - Especial para o Diário de Natal
paulonascimento.rn@dabr.com.br

Aatuação do procurador municipal Alexandre Magno de Souza em favor da Associação Marca não limitou-se aos contratos ligados à Secretaria Municipal de Saúde. Segundo a denúncia entregue pelo Ministério Público à Justiça Estadual, o lobby do procurador, que teve prisão preventiva decretada pelo juiz Cícero Martins mas encontra-se foragido da justiça, também alcançou a entrada do Terceiro Setor na administração da saúde do Estado. 

Provas na denúncia apontam para uso de informações dentro da Sesap. Foto: Fábio Cortez/DN/D.A Press


O procurador é considerado pelo MP-RN como um dos "cabeças" do esquema responsável por firmar contratos da SMS com supostas Organizações Sociais para gerir programas ou unidades de saúde. O esquema foi denunciado por promotores de justiça na Operação Assepsia, deflagrada na manhã de terça-feira (28). Durante a operação foram presas sete pessoas, dentre elas o ex-secretário municipal de saúde Thiago Trindade, e duas permanecem foragidas: o procurador Alexandre Magno e o empresário Tufi Soares Meres, do RioDe Janeiro.

As provas contidas na denúncia apontam para o uso de informações privilegiadas de dentro da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) pela Marca, repassadas pelo próprio procurador municipal, que teriam favorecido a Organização Social na sua contratação para gerir o Hospital da Mulher de Mossoró. O contrato emergencial de seis meses, firmado em março de 2012, tem o valor de R$ 16,8 milhões, dos quais R$ 10,6 milhões já foram transferidos para a OS.

A chegada de Alexandre ao gabinete da Sesap se deu devidamente por sua experiência com os contratos de gestão firmados entre a SMS e as Organizações Sociais. Uma portaria de 18 de setembro do ano passado, publicada no Diário Oficial do Município, cede o procurador para a Sesap por um ano. O documento referendado pela prefeita Micarla de Sousa e o então secretário de gestão Vágner Araújo oficializa uma situação que, segundo ligações telefônicas interceptadas na Operação Assepsia, já acontecia no mínimo desde maio do mesmo ano.

Ingerências

As interceptações telefônicas contidas nas páginas da denúncia apontam para várias ingerências de Alexandre Magno nos bastidores em favor da terceirização de setores da saúde pública estadual. "O objetivo da presença de Alexandre Magno na Secretaria Estadual de Saúde é unicamente viabilizar a contratação de organizações sociais do terceiro setor para administrar recursos públicos destinados à área de saúde", afirma a petição.

Uma das primeiras medidas de Alexandre Magno enquanto assessor da Sesap foi, segundo o MP, tentar tomar do município para o Estado a gestão da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), que estava nas mãos da Associação Marca. A vontade, no entanto, foi negada pelo secretário municipal de planjamento Antônio Luna. O gestor, que encontra-se preso no Quartel Geral da Polícia Militar, estaria "negociando o contrato após as saídas de Alexandre e do secretário Thiago Trindade da SMS.

O livre trânsito de Alexandre na Sesap termina facilitando seu acesso às informações da secretaria. Em conversa gravada no dia 28 de junho, ainda antes da cessão do procurador para a secretaria de saúde, o então titular da pasta Domício Arruda relata que teve acesso a um relatório que demonstrava o interesse da governadora Rosalba Ciarlini em alugar o Hospital da Unimed em Mossoró para transformar em uma unidade materno-infantil. O próprio ex-secretário afirma ter dito à governadora que o serviço deveria ser terceirizado e feito por uma OSCIP (Organização Social de Interesse Público). Outra interceptação, de setembro de 2011, aponta que tais informações foram repassadas para integrantes da Marca por Alexandre Magno. 


So, what did think about?

Segue logo abaixo um pequeno vídeo: " se gritar pela ladrão"!
 Salve salve o mestre Bezerra da Silva



segunda-feira, 25 de junho de 2012

Existe crime organizado no RN?

Segue logo abaixo opiniões de três autoridades da segurança pública do estado sobre o alto número de homicídios na Zona Norte de Natal e algumas alternativas, segundo eles para enfrentamento dessa realidade social.


A matéria foi publicada neste último domingo (24) no Jornal Diário de Natal. Vale a pena conferir!


Delegado pede combate ao tráfico de armas


A facilidade na obtenção de armas como pistola e revólveres pelos envolvidos com o tráfico também é tida como uma das causas para o crescente número de assassinatos por armas de fogo na região. "O tráfico de armas é algo que o Estado precisa combater com maior força, mas está deixando de lado. Me pergunto como os bandidos tem acesso tão fácil a revólveres e pistolas. Assim eles armam e qualificam os seus soldados, para fazer a segurança das bocas de fumo e também para matar devedores, denunciantes e concorrentes no tráfico. A impunidade deixa eles livres para resolver questões triviais com assassinatos. Eles sabem que não vão ser desarmados e legitimam sua ação por força das armas que possuem", comenta o delegado.

Fernando Alves, Delegado da 9ª DP: "Ninguém mata de graça hoje em dia. Estas pessoas estão ganhando." Foto: Fábio Cortez/DN/D.A Press


Todas as características, dados e casos que se apresentam na região sob sua jurisdição apontam, para Fernando Alves, o princípio da organização do crime, como aconteceu no Rio de Janeiro em meados de década de 1980, com o surgimento de grupos como o Comando Vermelho e Terceiro Comando. "Estamos vendo o começo de uma rede criminosa organizada. Eles agora agem com um objetivo, buscam o lucro. Nos moldes Sudeste, eles estão formando uma empresa criminoso. Veja o caso recente dos roubos de coletes e armas de fogo de vigilantes de hospitais. É uma ação direcionada. Não estamos mais lidando com bandidos 'pé-de-chinelo'. Eles estão se organizando. Tem funcionários, profissionais, que trabalham na segurança, por exemplo. E a Polícia Civil está desorganizada.", analisa o delegado.

Ele descarta a presença de integrantes do Comando Vermelho e do Primeiro Comando da Capital (PPC), de São Paulo, seja causa para esta crescente organização do crime em Natal. "Não é segredo para ninguém, é dado do Ministério da Justiça, que o crime saturou em pontos do Sudeste e este pessoal está subindo para cá, principalmente para lavar dinheiro. Creio que a situação é que os criminosos potiguares estão em contato com o Rio de Janeiro e São Paulo, mas não há representantes deles trabalhando aqui", frisa Alves. Em março deste ano o Diário de Natal publicou a informação contida em um relatório produzido ano passado pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) de que supostos integrantes do Comando Vermelho e do PCC chegaram a ameaçar autoridades do RN.

O chefe da 9ª DP aponta que o caminho para organização da polícia no combate à criminalidade organizada é longo. Primeiro passa pela questão estrutural, incluindo a contratação e treinamento de concursados, além da compra de armamento e de arsenal tecnológico para equipar a polícia investigativa. "Tenho cinco agentes para uma área de 200 mil pessoas. Não tenho nem um veículo descaracterizado. Fazemos milagre para cumprir os mandados judiciais, em levantamentos que levam meses quando deveriam levar semanas. Para um agente fazer um trabalho investigativo fica difícil, porque ou ele vai no próprio carro, arriscando o patrimônio pessoal, ou vai a pé. Imagine ter que cobrir esta área toda a pé? Teríamos agentes cumprindo o trabalho de ônibus",pontua Fernando.

O segundo, para ele, ponto é transformar a cultura dos governos para com a Polícia Civil. "Os governos, não só daqui mas do país inteiro, não dão prioridade às delegacias de bairro. O investimento todo vai para as delegacias especializadas, que investigam crimes maiores, de maior repercussão, o que traz uma imagem boa. Esta é uma visão atrasada. Nós lidamos com uma suposta pequena criminalidade, mas é a que assusta. 90% da carga dos homicídios ficam nas delegacias de bairro e ainda pensam que somos um mini-juizado criminal, para registrar boletim de ocorrência e resolver briga de vizinho", aponta o delegado. 



Polícia Militar reconhece alto índice de homicídios


Classificado como uma das regiões mais perigosas de Natal, o setor da 9ª DP - que inclui conjuntos como Vale Dourado¸ Jardim Progesso e Aliança, reconhecidos pontos de concentração de homicídios e tráfico de drogas - apesar de contar apenas com cinco agentes da Polícia Civil e um delegado recebe uma atenção especial da Polícia Militar. Sob os cuidados do 4º Batalhão da PM (BPM), a região é dioturnamente vigiada de perto por seis viaturas da Força Tática, cada qual com quatro policiais armados de fuzil. "Cercamos está area com estas viaturas, que fazem o patrulhamento pelas principais avenidas da região, como a Maranguape e as Fronteiras. Além delas temos 10 viaturas da Ronda Cidadã dentro das comunidades", cita o major Manoel Kennedy Nunes, comandante do 4º BPM.

Além dos problemas tradicionais da violência, a Zona Norte está sofrendo com a atividade crescente de matadores profissionais. Foto: Carlos Santos/DN/D.A Press


O major reconhece que o alto índice de homicídios na área é histórico, sempre ligado ao tráfico de drogas. "99% destes homicídios são acertos do tráfico de drogas. Seja dívida ou disputa por boca de fumo, o pivô é sempre a droga. Quem deve sempre paga", comenta Kennedy. O comandante, no entanto, descarta a análise do delegado Fernando Alves que os criminosos estariam evoluindo para um nível de organização que a seguranaça pública não reconhece. "Eu vejo que a cada dia a situação está mais sob controle. Os deliquentes estão migrando para outras áreas, como São Gonçalo. Mas, acredito que o delegado tem muito mais informações do que eu e pode afirmar que os criminosos estão se organizando", declarou o oficial PM. Ele ainda apontou que os traficantes da Zona Norte apenas copiam o que conhecem de São Paulo e Rio de Janeiro. "Eles estão ficando mais ousados. Em áreas como a Baixa da Coruja (Jardim Lola), Beira Rio e África (Redinha) temos que entrar sempre com mais de uma viatura. A geografia destes locais favorece os bandidos. Eles até atiram nas viaturas, mas apenas para tentar assustar e terminam fugindo por becos ou pelo mangue", relata. Nestas comunidades, segundo ele, é necessário a presença em maior número da PM. "A maior quantidade de policias os assusta, por isso sempre vamos com mais de uma viatura", aponta o major.

Reforço 

A dificuldade em relação a quantidade de policiais, estrutura e material é reconhecida por todos os integrantes da Polícia Civil do RN. Incluindo o delegado-geral. Mas o próprio Fábio Rogério da Silva também reconhece que a mudança ainda pode demorar um pouco mais de tempo do que é desejado por delegados e agentes. "Temos uma previsão de reforço para delegacias como a 9ª DP, mas ainda vai demorar. Sabemos da deficiência das delegacias da capital. Mas, o momento é de dar prioridade ao interior", apontou o delegado-geral.

Apesar das nomeações feitas recentemente, com a ocupação de delegados e agentes em 13 comarcas, outras 22 ainda estão sem qualquer representante da polícia judiciária. Rogério ainda apontou que a quantidade de homicídios registradas na delegacia da Zona Norte é uma precupação da Delegacia Geral de Polícia Civil do RN (Degepol-RN). "Basta ver a quantidade de operações aqui e no interior do Estado que fizemos recentemente. A nossa preocupação é reduziR a quantidade de homicídios e também de tráfico de drogas. Sabemos que é difícil, praticamente impossível, acabar com tudo isto, mas podemos diminuir", apontou ele.

O delegado-geral ainda corroborou do apontamento feito pelo titular da 9ª DP, Fernando Alves, sobre a organização do crime na Zona Norte, com mais de 25 execuções creditadas a disputa de traficantes por território e pontos de vendas apenas em 2012, além do trabalho de assassinos profissionais nestas execuções. "É bastante possível que estes profissionais estejam atuando na Zona Norte e é um grupo bastante organizado. A disputa pelo tráfico da região é muito grande, basta ver a quantidade de homicídios com característica de execução", afirmou Fábio Rogério. 



Outro ponto que destaco é que não há um consenso dos estudiosos acerca de "crime organizado". Creio que para a análise dessa situação o termo mais adequado seria "o crime com certa noção de organização". Visto que o primeiro  conceito é muito mais abrangente e perpassa por toda uma cadeia  organizacional, com início, meio e fim, e papéis bem delimitados, como utilização dos recursos adquiridos através de atividades criminosas para manutenção e incremento da "instituição", infiltração em setores da organização estatal (poderes constituídos), pagamentos de propinas, entre outras formas e possibilidades de "desenvolvimento da organização".

Um conceito bastante interessante e atual é o de Guilherme Werner:

Portanto, crime organizado é atividade praticada por grupo de pessoas engajadas, em determinados empreendimentos ilícitos, onde posições específicas são previamente definidas na organização para aca participante contando com os executores, corruptores e corrompidos (Cressey, apud Werner 1969, p.319).

Para um maior aprofundamento  tese de doutorado de Guilherme Werner, defendida na USP, denominada de: O crime organizado transacional e as rede criminosas: presença e influência nas relações internacionais contemporâneas. São Paulo. Universidade de São Paulo, 2009, disponível em: https://www.google.com.br/search?rlz=1C1FDUM_enBR474BR474&sugexp=chrome,mod=12&sourceid=chrome&ie=UTF-8&q=crime+organizado+coneito+castels

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Sobre as origens da democracia

Vale a pena conferir um pouco de cultura e, porque não dizer de humor se correlacionarmos com a nossa atual " democracia".




A DEMOCRACIA DIRETA

Reprodução
Panorama do regime em que vivemos, inspirado em antigos ideais gregos
Livro explica os fundamentos do regime inspirado nos gregos antigos

A palavra democracia vem do grego (demos, povo; kratos, poder) e significa poder do povo. Não quer dizer governo pelo povo. Pode estar no governo uma só pessoa, ou um grupo, e ainda tratar-se de uma democracia --desde que o poder, em última análise, seja do povo. O fundamental é que o povo escolha o indivíduo ou grupo que governa, e que controle como ele governa.
O grande exemplo de democracia, no mundo antigo, é Atenas, especialmente no século 5 a.C. A Grécia não era um país unificado, e portanto Atenas não era sua capital, o que se tornou no século 19. O mundo grego, ou helênico, se compunha de cidades independentes.
Inicialmente eram governadas por reis --assim lemos em Homero. Mas com o tempo ocorre uma mudança significativa. O poder, que ficava dentro dos palácios, oculto aos súditos, passa à praça pública, vai para tó mésson, "o meio", o centro da aglomeração urbana. Adquire transparência, visibilidade. Assim começa a democracia: o poder, de misterioso, se torna público, como mostra Vernant. Em Atenas se concentra esse novo modo de praticar --e pensar-- o poder.
Os gregos distinguiam três regimes políticos: monarquia, aristocracia e democracia. A diferença era o número de pessoas exercendo o poder --um, alguns ou muitos. Monarquia é o poder (no caso, arquia) de um só (mono). Aristocracia é o poder dos melhores, os aristoi, excelentes. São quem tem aretê, a excelência do herói. Assim, a democracia se distingue não apenas do poder de um só, mas também do poder dos melhores, que se destacam por sua qualidade. A democracia é o regime do povo comum, em que todos são iguais. Não é porque um se mostrou mais corajoso na guerra, mais capaz na ciência ou na arte, que terá direito a mandar nos outros.
A PRAÇA É DO POVO
Em Atenas e nas outras cidades democráticas (não era toda a Grécia: Esparta era monárquica), o povo exercia o poder, diretamente, na praça pública. Não havia assembléia representativa: todos os homens adultos podiam tomar parte nas decisões. A lei ateniense, no século 4 a.C., fixa 40 reuniões ordinárias por ano na ágora, que é a palavra grega para praça de decisões. Isso significa uma assembléia a cada nove dias.
Essa é a maior diferença entre a democracia antiga e a moderna. Hoje elegemos quem decidirá por nós. Mesmo em cidades pequenas, delegamos por vários anos as decisões ao prefeito e aos vereadores. Os gregos, não. Eles iam à praça discutir as questões que interessavam a todos.
O pressuposto da democracia direta era a liberdade. Os gregos se orgulhavam de ser livres. Isso os distinguia de seus vizinhos de outras línguas e culturas. Ser grego ou helênico não era uma distinção racial, mas lingüística e cultural. Quem falasse grego era grego, não importando o sangue que corresse em suas veias. Os gregos consideravam os outros povos, tais como os persas, inferiores, mas --ao contrário dos racistas modernos-- não por uma diferença genética, e sim por não praticarem a liberdade. (Ter a liberdade significava praticá-la.) Só eles, que decidiam suas questões, eram livres.
Dá para entender por que ainda hoje quem fala em democracia evoca com um suspiro a cidade de Atenas? Sua assembléia reunia poucos milhares de homens, e sua democracia durou apenas uns séculos. Regimes democráticos só voltaram à cena em fins do século 18, mais de 2 mil anos depois. E, no entanto, parece que nada jamais se igualará a Atenas.
O SORTEIO
Talvez o mais estranho, na democracia antiga, fosse que nela mal havia eleição. Na verdade, não havia cargos fixos, ou eles eram poucos. Havia encargos. Uma assembléia tomava uma decisão; era preciso aplicá-la; então se incumbia disso um grupo de pessoas. Mas estas não eram eleitas, e sim sorteadas.
Por quê? A explicação é simples. A eleição cria distinções. Se escolho, pelo voto, quem vai ocupar um cargo permanente --ou exercer um encargo temporário--, minha escolha se pauta pela qualidade. Procuro eleger quem acho melhor. Mas o lugar do melhor é na aristocracia! A democracia é um regime de iguais. Portanto, todos podem exercer qualquer função.
Um exemplo é o júri. A freqüência à ágora é grande, chegando a alguns milhares, numa Atenas que tem de 30 mil a 40 mil cidadãos. Mas os principais julgamentos são atribuídos a um tribunal especial, cujos membros são sorteados, o que hoje chamamos júri. Temos um caso célebre, histórico: o julgamento de Sócrates. O filósofo é julgado, em 399 a.C., por 501 pessoas. Como 281 o condenam e 220 votam pela absolvição, ele é sentenciado à morte.
A maior exceção à regra da escolha por sorteio é óbvia: os chefes militares. Deles, e de poucos outros, se exige uma competência técnica que não se requer nas tarefas cotidianas. Nestas um nível de desperdício é tolerado, porque é mais importante a igualdade (isonomia) entre os cidadãos do que a perfeição na execução das tarefas.
AS FESTAS
Mas o que esses cidadãos mais decidem? A sociedade grega não conhece a complexidade da economia moderna. Os cidadãos tratam da guerra e da paz, de assuntos políticos, mas parte razoável das discussões parece girar em torno da religião e das festas, também religiosas.
Imaginemos o que é uma pólis grega. Uma assembléia a cada nove dias, sim, mas não para tratar de assuntos como os de grêmio estudantil (que é o órgão moderno mais próximo de sua militância). E sim, com alguma freqüência, para discutir festas e dividir as tarefas nelas.
Não é fora de propósito imaginar que o Rio de Janeiro, Salvador, o Recife e Olinda dariam excelentes cidades-estado, se decidissem adotar a democracia direta. Fariam constantes festas ao deus Dioniso (o Baco dos romanos) e, à volta disso, organizariam a vida social. E é bom pensar numa comparação nada acadêmica como esta, porque a tendência dominante, falando da democracia grega, é acentuar sua seriedade --como se fosse um regime feito para tratar das mesmas questões que nos ocupam. Não é o caso. A política era provavelmente mais divertida, até porque era bem próxima da vida cotidiana.
E poucos foram aqueles, como Platão e outros críticos da democracia, que questionaram a competência do povo simples para tomar as decisões políticas, alegando que para governar seria preciso ter ciência. Ora, um princípio da democracia grega --e de todo espírito democrático-- é que, se há ofícios em que o fundamental é a capacitação técnica, a cidadania não está entre eles. Aqui, na decisão do bem comum, na aplicação dos valores, todos são iguais --não há filósofo-rei nem tecnocrata.
OS EXCLUÍDOS
Em meio aos elogios dos modernos à democracia ateniense, uma crítica reponta: ela negava participação na ágora às mulheres, aos menores de idade, aos escravos e estrangeiros. Hoje aceitamos a exclusão dos menores, mas não a das outras categorias. O trabalho manual, considerado degradante, cabia sobretudo a escravos. Na condição de estrangeiro (em grego, meteco), incluíam-se todos os não-atenienses e mesmo seus descendentes: muitas pessoas nascidas em Atenas, mas de ancestrais estrangeiros, jamais teriam a cidadania ateniense.


E há quanto anda a nossa "democracia"? Seria o governo do demo?!!!
Quem explica é Tom Zé com seu "TÔ"

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Etnografia, jornalismo, música e muito mais...

Saudações internautas!


Geralmente não estou habituado a postar at the begining of the week, mas me senti extremamente motivado, pois dando um giro pelos Blog que sigo vi que nossos interlocutores têm ficando encantados com o poder deste meio de comunicação. In fact, it's really amazing! What you think about?


Como enfatiza o título da postagem, gostaria de falar acerca de dois excelente livros que leio no momento.
 The first one is: Junto e misturado: uma etnografia sobre o PCC, de Karina Biondi.

JUNTO E MISTURADO: UMA ETNOGRAFIA DO PCC“As principais avenidas de São Paulo nunca estão desertas. Não posso enumerar os motivos que levam as pessoas a ganharem as ruas durante a madrugada, mas um deles conheço bem: é o dia de visita nas cadeias”

Com estas palavras, a antropóloga Karina Biondi inicia sua obra e conduz o leitor por um universo pouco conhecido, controverso e impossível de ser ignorado: o do Primeiro Comando da Capital, ou PCC, e sua história, modo de funcionamento, ética e organização política. Karina teve acesso às informações e descrições contidas neste livro como resultado de uma reunião de papéis tão rica quanto peculiar: o de antropóloga e o de esposa de detento – seu marido foi inocentado depois de seis anos de prisão, e durante esses seis anos ela o visitou semanalmente em diversas cadeias do estado de São Paulo, quando desenvolveu seu mestrado. Desta forma, por meio do relato de presos, da sua própria experiência entre os muros da prisão e dos instrumentos da etnografia, sustenta esta narrativa hábil e de forte rigor científico.

And the second one is: 1968: o que fizemos de nós?




Quarenta anos depois das barricadas de Paris, das manifestações contra a Guerra do Vietnam, da Passeata dos Cem Mil e do AI-5, o escritor e jornalista Zuenir Ventura retorna a 1968 para, a partir daí, investigar o que restou da herança do mais polêmico ano do século XX. '1968 - O que fizemos de nós', o novo livro de Zuenir Ventura, parece reunir os mesmos ingredientes que transformaram '1968 - O ano que não terminou' num clássico da história do jornalismo brasileiro. Como se isso não bastasse, o novo livro conta com depoimentos inéditos de Caetano Veloso, Fernando Henrique Cardoso, José Dirceu, Fernando Gabeira, Franklin Martins, entre outros.


E para os que querem dar uma lida rápida mas o money está curto segue logo abaixo um link do Estadão onde está disponível on line um capítulo do livro do Zuenir Ventura:
http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,leia-capitulo-do-livro-1968--o-que-fizemos-de-nos,164219,0.htm

I hope that you have realy enjoyed!  Faremos outras postagens nesse sentido!






E fiquem com a belíssima canção de Cátia de França " Ponta do Seixas".


Have a nice week. See you soon!

sábado, 9 de junho de 2012

Música de primeira e quase de graça: Pedrinho Mendes e Sueldo Soares

Saudações Caríssimos!

Como de praxe (modéstia a parte!) estamos sempre plugados em programas bons e acessíveis aos nossos parcos recursos, pois aqui na Capital do Sol parece que os promoters pensam que moramos na Suiça, Suécia, Canadá.....

Vamos e convenhamos! Shows cotados entre cem e quatrocentos reais, certamente não é para nós! Mas pasmem  todos, muitos se aventuram tirando, inclusive, parcela significativa dos seus míseros salários para frequentar as casas de shows mais badalas de Natal... Depois ainda reclamam que o salário não dar para nada!

Vale refletir se são os artistas ou os promotores locais que estão superfaturando tais eventos! Enquanto estivermos lotando esse espaços, inclusive, alguns shows com apresentação dupla, fiquemos certos, os preços não baixaram. Adsumus!



Bom, mas vamos ao que interessa! Logo abaixo um encontro amazing entre dois grandes nomes da nossa música que certamente vale apena conferir!


Pedrinho e Sueldo reencontro celebra 30 anos de carreira


"Estamos plantando a pedra 'filosofal' do nosso reencontro com esta apresentação", disse o cantor Sueldo Soaress ao FIM DE SEMANA sobre o show que faz com Pedro Mendes neste sábado (9) no Bardallo's Comida e Arte - Cidade Alta. Os dois estão comemorando 30 anos de carreira em 2012 e este encontro serve como aperitivo para o público, pois a dupla pretende remontar "Tinta Viva" - show que marcou a estreia de ambos no Teatro Alberto Maranhão em 1982. Por enquanto, apenas vozes e violões no palco: Sueldo abre a noite, passa o bastão para Pedro e encerram a festa juntos.
Júnior Santos/DivulgaçãoShow Em Cantos relembra os primeiros anos de carreira dos artistas potiguares Pedro Mendes e Sueldo Soaress.Show Em Cantos relembra os primeiros anos de carreira dos artistas potiguares Pedro Mendes e Sueldo Soaress.

"Este show no Bardallo's é dele (Sueldo), serei apenas o convidado da noite para uma canja programada", adiantou Pedro Mendes por telefone. "Ainda não é o 'revival' do Tinta Viva, mas servirá como forma de entrosamento", avisa. "O ano de 2012 é bem emblemático para nós. Quero fazer um evento no TAM para comemorar meus 30 anos de carreira, vou convidar Sueldo para esta apresentação, mas mesmo assim ainda não será o Tinta Viva. Penso em fazer uma festa em outro lugar... vamos ver o que vai acontecer daqui pra lá".

Já Sueldo Soaress está na produção de seu quatro disco, "Vou por aí", que deverá ser lançado em novembro com a banda Bamuamba. Os álbuns anteriores são "Tulipa Negra", "Em primeira mão" e "Trilhas". "Até novembro estarei mostrando algumas músicas novas, inclusive neste sábado, e nesses encontros com o Pedro vamos experimentar até que o Tinta Viva entre na fita", informou Soaress.

O produtor do evento, Nelson Rebouças, está empolgado com a série de encontros programadas ao longo do ano. "Como eles não tocam juntos há um tempo, essas apresentações vão dar um gás até a hora certa de remontar o 'Tinta Viva' com banda completa e tudo mais", informou Rebouças, que marcou o próximo encontro da dupla para julho. "Tinta Viva" é o nome de uma música composta por Pedro com um primo de Sueldo, Bira Soares.

Serviço: Show "Em Cantos", com Sueldo Soaress e Pedro Mendes. Sábado (9), às 20h, no Bardallo's Comida e Arte - rua Gonçalves Ledo, 678, Cidade Alta. Ingressos R$ 5. Informações 9922-8188.

E como aperitivo que tal um belo clip!
Tulipa negra: Sueldo Soares



quinta-feira, 7 de junho de 2012

Exemplos de investimentos em cultura: formas alternativas de promoção de cidadania e redução de violência e criminalidade


Segue logo abaixo um exemplo  de alternativa de investimento social que se reverte em qualidade de vida e, portanto, promoção da cidadania.

Ainda não conheço pessoalmente, mas certamente, Its soon Its possible, visitarei!

Vale apenas conferir a matéria!

al, 07 de Junho de 2012 | Atualizado às 11:57

Um oásis cultural no sertão



Por Yuno Silva - repórter

O município de Janduís, localizado há cerca de 280 km de Natal, pode ser considerado como um pequeno oásis de arte e Cultura encravado no Médio Oeste potiguar. Prestes a completar meio século de emancipação política no próximo dia 12 de junho, a cidade está entre as mais adiantadas no Rio Grande do Norte em termos de políticas públicas para o setor e já faz parte da seleta lista das cidades brasileiras que cumpriram todas as etapas determinadas pelo Ministério da Cultura para formalizar adesão ao recém-aprovado Sistema Nacional de Cultura, que tramitava há sete na Câmara Federal em Brasília e foi votado no último dia 30 de maio.
Raildon LucenaEscambo Livre de Rua surgiu em Janduís em 1991, e hoje tem conexões em todo o país. Além de receber grupos de outros Estados, também é visitado por diretores e dramaturgos como Amir HaddadEscambo Livre de Rua surgiu em Janduís em 1991, e hoje tem conexões em todo o país. Além de receber grupos de outros Estados, também é visitado por diretores e dramaturgos como Amir Haddad

DivulgaçãoLindemberg Bezerra, presidente da Fundação Cultural Mestre DadáLindemberg Bezerra, presidente da Fundação Cultural Mestre Dadá
Com pouco mais de cinco mil habitantes, Janduís assistiu o surgimento do Escambo Popular Livre de Rua em 1991, projeto que evidencia o teatro de rua, poesia, cinema, circo e grafite, e que hoje têm representantes em quase todos os estados do país; e se destaca por ter aprovado um Fundo Municipal de Cultura que utiliza 1% do orçamento (ou cerca de R$ 130 mil). Também formatou um Conselho Municipal de Cultura; mantém a Fundação Cultural Mestre Dadá, nome de um capoeirista querido da cidade falecido há quatro anos; incentiva o debate através de um Fórum; e a previsão é que ainda este ano seja aprovado o Plano Municipal de Cultura - projeto executivo que irá guiar o Sistema Municipal pelos próximos dez anos.

"Tudo o que está acontecendo é fruto de uma articulação antiga, reivindicação que ganhou força nos últimos quatro anos quando os artistas
se uniram e foram para as ruas pressionar os vereadores para aprovar leis em favor da Cultura", disse Lindemberg Bezerra, ator do grupo de teatro Ciranduis e presidente da Fundação Cultural que cumpre o papel de Secretaria. "Felizmente os parlamentares entenderam nossos pedidos e os projetos estão sendo aprovados sem maiores problemas, estão respeitando nosso trabalho de mais de 20 anos", acredita Bezerra.

Além dos R$ 130 mil garantidos para o Fundo, o orçamento da Cultura no município pode chegar à R$ 800 mil, um índice que pode chegar a até 4% do orçamento municipal. "Esses recursos são para manutenção da Fundação, folha de pagamento de pessoal, entre outras atividades", enumerou Bezerra, salientando que toda a verba do Fundo é canalizada para financiar a produção artística. "Os editais estão sendo elaborados em conjunto, entre membros do Conselho, da Comissão Gestora, do Fórum Municipal e Pontos de Cultura", informou.
DivulgaçãoGrupo Ciranduis de teatro de rua é um dos articuladores do EscamboGrupo Ciranduis de teatro de rua é um dos articuladores do Escambo
Raildon LucenaO movimento cultural em Janduís foi tema de reportagens com repercussão nacionalO movimento cultural em Janduís foi tema de reportagens com repercussão nacional
Detalhe importante: a Comissão gestora do Fundo de Cultura conta com nove membros, sendo seis da sociedade civil e três indicados pelo poder público; já o Conselho mantém cinco representantes da sociedade civil e quatro do poder público. "A Fundação só participa da gestão do Fundo, pois está previsto em lei, mas não interfere no Conselho", ressaltou Lindemberg.

A partir do quadro explicitado, Janduís serve como exemplo a ser seguido pelo Estado, pela capital potiguar e por outros municípios do RN.

CASA DA DISCÓRDIA

Lindemberg BezerraCasa de Cultura de Janduís é alvo de disputa política e está sem programação definidaCasa de Cultura de Janduís é alvo de disputa política e está sem programação definida
Como nem tudo é perfeito, a Casa de Cultura Vapor das Artes vem sendo alvo de uma disputa política que em nada contribui para o fortalecimento cultural da cidade. Criada em 2005, a Casa ainda não foi inaugurada oficialmente pelo Governo do RN e não passou por nenhuma manutenção em sua estrutura desde então.

"A Casa de Cultura funcionou normalmente até fevereiro deste ano", informou Joana D'Arc, responsável pelo setor que cuida das Casas na Fundação José Augusto.

Ela explicou que a situação se complicou quando foram nomeadas duas novas agentes culturais. "Não houve entendimento entre as novas gestoras e o grupo de Lindemberg, que mantinha Ponto de Cultura e promovia atividades na Casa, e isso comprometeu o funcionamento do equipamento. Estamos trabalhando para reverter essa situação", concluiu Joana.

ENTREVISTA

SALOMÃO GURGEL - Prefeito de Janduís

Arquivo TNSalomão Gurgel verifica incremento na economia local com a promoção de atividades culturaisSalomão Gurgel verifica incremento na economia local com a promoção de atividades culturais
Janduís acumula tradição e uma experiência estreita com as manifestações culturais. Até que ponto ela influencia na dinâmica da sociedade?

Desde que me lembro, que me entendo por gente, a Cultura está impregnada nas pessoas. Os meninos, os jovens, sempre estiveram envolvidos com Pastoril e outros grupos tradicionais bem antes de saberem o que é teatro, e isso reflete na efervescência que vemos hoje.

E de onde a Prefeitura tirou os recursos para criar o Fundo de Cultura?

Estamos seguindo o limite constitucional, determinado no Sistema Nacional de Cultura, de destinar 1% do orçamento total do município à área cultural. Ou seja, 1% de todos os impostos arrecadados e dos repasses do Fundo de Participação dos Municípios - FPM repassamos para a Cultura.

E há outra fonte?

Sim. Foi aprovada uma lei complementar municipal que destina até 3% do orçamento para a pasta cultural, mas esse repasse depende da disponibilidade financeira da Prefeitura. Somando as duas fontes, temos R$ 800 mil de verba para a Cultura em Janduís.

Como o senhor já cumpriu dois mandatos seguidos (de 2005 a 2012), há risco dessa iniciativa ser descontinuada?

Acredito que não. Como está tudo dentro da estrutura municipal, esses índices irão transcender gestões. Estamos para aprovar, até o início de julho, o Plano Municipal de Cultura, que prevê ações para os próximos dez anos. Caso haja algum desvio no meio do caminho, cabe aos artistas estarem articulados para garantir a manutenção do Plano e do Fundo, pois a Prefeitura deixou tudo pronto para ser continuado.

O município sente os reflexos da Cultura na economia local?

Sem dúvida. Além de gerar renda e sustentabilidade aos artistas e grupos, um movimento intensificado ano passado quando cidades vizinhas passaram a contratar grupos aqui de Janduís para apresentações, muitas pessoas também visitam o município atraídas por projetos como o Escambo e encenações como a Paixão de Cristo e o Auto de Santa Terezinha (padroeira da cidade). Isso movimenta o comércio de um modo geral.

NÚMEROS

5.350
habitantes em Janduís segundo o senso do IBGE (2010)

13
milhões é o orçamento anual estimado do município

130
mil destinado ao Fundo de Cultura (ou 1% do orçamento)

24,30
reais é a média anual, por habitante, de investimentos na área cultural em Janduís

3,78
reais é a média anual, por habitante, de investimentos em Cultura pelo Governo do RN considerando os R$ 12 milhões do Fundo Estadual de Cultura - FEC

50
centavos é a média anual, por habitante, de investimentos em Cultura pela Prefeitura de Natal considerando os R$ 400 mil do Fundo de Incentivo à Cultura - FIC de 2011 e uma população de 800 mil habitantes


Have a nice holiday....
See you soon!

PS.: Não poderia deixar de registrar, apesar da chuva e da pouca divulgação, o show man e atual presidente da Fundação de Cultura da nossa vizinha Paraíba, ou seja, nada mais nada menos do Chico César mais uma vez foi  amazing, num dos eventos programados pela Prefeitura do Natal, em comemoração a semana do meio ambiente.
Quem não foi perdeu, but can see right now!
Respeitem meu cabelos, branncos! (Chico César)

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Uma pequena análise sobre segurança pública (Parte I)

A quanto andam as atuais políticas de segurança pública no Brasil?

Logo abaixo a opinião de um dos mentores intelectuais e também tecnocratas, que idealizaram, puseram em prática, dentro do que era possível executar, a partir da conjuntura brasileira, e agora após algum tempo de maturação, e já fora da equipe governamental , o autor de Meu casaco de general faz suas primeiras análises.

Vale apena conferir e tirar nossas próprias conclusões!


Entrevista LUIZ EDUARDO SOARES
“UNIVERSALIZAR A UPP É IMPOSSÍVEL SEM UMA REFUNDAÇÃO DAS POLÍCIAS”
O antropólogo, escritor e ex-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro analisa o programa de ocupação das favelas
Por Eduardo Sá
A implementação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas favelas cariocas completou três anos em dezembro de 2011. É o que mais tem se propagado pelo governo Sérgio Cabral, e sustentado seu poder. A agenda do Rio de Janeiro sempre é pautada pelo tema, cuja crítica ao modelo de segurança pública se tornou um tabu naturalizado pela opinião pública. Mesmo reconhecendo os avanços, Luiz Eduardo Soares, ex-secretário de Segurança Pública no governo Lula, sustenta que é inviável a continuidade do projeto no longo prazo devido à própria natureza da instituição da Polícia Militar (PM). Segundo ele, que também escreveu o livro Tropa de Elite, é preciso realizar uma refundação das polícias para, inclusive, combater as milícias que têm progredido no estado. Soares também aponta o alto índice de encarceramento no Brasil e a prática de sistemáticas violações nas regiões não atendidas pelo programa como um problema crônico no Brasil.
Caros Amigos - Qual o balanço que você faz das UPPs após três anos da implementação do projeto?
Luiz Eduardo Soares – As UPPs são um programa extremamente importante, e não chega a ser, entretanto, uma política de segurança pública. Para transformar-se teria de realizar duas qualidades que ainda estão distantes: a universalização e sustentabilidade. Seria necessário institucionalizar o projeto. Mas não é possível conferir a responsabilidade às instituições da PM pelo grau de degradação de envolvimento com corrupção, com práticas criminosas, brutalidade, cuja expressão extrema talvez seja as milícias, além das execuções extrajudiciais. A PM carioca é uma das mais violentas do mundo. Os números de execuções extrajudiciais e de autos de resistências são recordistas. Evidente que seria impróprio, inadequado, inviável, conceder o poder de implementação de um projeto desse tipo a uma instituição ingovernável, sem controle externo e tomada por segmentos criminosos e violentos. Muitos dos trabalhadores policiais merecem todo o nosso respeito e até admiração, pois arriscam suas vidas por salários indignos, aviltantes, e trabalham em condições que são muitas vezes desumanas. Mas é preciso reconhecer que há segmentos muito numerosos envolvidos profundamente com as práticas criminosas de todos os tipos. Universalizar a UPP pelo meio natural é impossível nas condições atuais sem uma refundação das polícias. Por outro lado, a sustentabilidade também dependeria do envolvimento da instituição responsável pela segurança pública no Estado. E pela mesma dificuldade isso seria impossível.
O artigo completo você lê na edição 182 de Caros Amigos, nas bancas e loja virtual
Fonte: http://carosamigos.terra.com.br/index2/index.php/component/content/article/168-edicao-182/2912-luiz-eduardo-soares-universalizar-a-upp-e-impossivel-sem-refundar-as-policias

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Será que o fim dos bairros trandiconais de Natal é esse?


Um pouco de História Pitiguar!


Em memória do planeta Alecrim
O 'planeta' chamado Alecrim, importante entreposto comercial que acumula intensa movimentação desde o início do século 20, ganha as telas através do documentário "Cais do Sertão". A sessão de lançamento está marcada para hoje, logo mais às 18h30, no Mercado da Avenida 6 esquina com a Avenida 4. Gratuita e aberta ao público, a exibição servirá para moradores e frequentadores do Alecrim refletirem sobre as histórias, as transformações ao longo do tempo, a situação em que se encontra e as possíveis soluções para o caos urbano que aflige o centenário bairro.
Reprodução/Canindé SoaresO antigo prédio, que até hoje abriga a Associação dos Escoteiros e a Escola Frei Miguelinho, foi reformado e perdeu seus traços originais. E o Alecrim atual, no seu burburinho cotidiano.O antigo prédio, que até hoje abriga a Associação dos Escoteiros e a Escola Frei Miguelinho, foi reformado e perdeu seus traços originais. E o Alecrim atual, no seu burburinho cotidiano.

Produzido pelo documentarista Paulo Laguardia, "Cais do Sertão" levou três anos para ficar pronto - desde a pesquisa até a edição das imagens - e um de seus principais méritos é recontar uma história nem sempre lembrada e, na maioria dos casos, desconhecida para muitos natalenses. Outro fator positivo, que confere maior relevância e contundência ao documentário, é o viés crítico da abordagem e o esforço para não cair na armadilha da cômoda posição de ser meramente contemplativa. "Foi um processo natural, as pessoas falam por si e dão seu ponto de vista a respeito do bairro sem nenhuma interferência da equipe", disse o diretor e roteirista.

Vale lembrar que o título do documentário faz alusão ao apelido recebido pelo Alecrim nas primeiras décadas do século 20, justamente por ser um importante entreposto de produtos que chegavam do interior do Rio Grande do Norte pelo Potengi. Inclusive, um dos motivos da capital potiguar não ter sido transferida para Macaíba naquela época deve-se muito a vocação comercial do bairro, que completou 100 anos oficialmente em outubro de 2011.

O interesse de Paulo Laguardia pelo bairro não é de agora: ele morou no Alecrim, trabalhou mais de uma década por lá e a passagem do centenário do bairro era a deixa que faltava ao documentarista. "Além do comércio popular e da grande população residente, o Alecrim tinha um vida cultural pujante. Não à toa, era o principal palco para comícios, tinha seis cinemas, dois teatros e duas ou três casas de shows. Sem falar do Carnaval".

CRÍTICAS AOS POLÍTICOS

Laguardia lembra que registrou apenas duas unanimidades durante as filmagens de "Cais do Sertão": a crítica aos políticos e o amor das pessoas entrevistadas pelo bairro. "Não tenho a menor intenção de politizar o documentário, tanto que todos os nomes citados foram cuidadosamente evitados, mas o conteúdo foi preservado. Há depoimentos fortes como o que afirma, com todas as letras, que os políticos se 'acorvadaram' na hora de executar projetos de reurbanização do bairro pelo simples receio de 'perder votos'. A opinião geral é a de que o Alecrim não aceita remendos".

Como forma de reforçar argumentos, o documentário também apresenta projetos aprovados e não executados, caso da reurbanização de um trecho da Avenida 9, entre as Avenidas 1 e 2. "Cerca de R$ 500 mil, que deveriam ter sido aplicados na organização desse pequeno e complicado trecho, foram devolvidos ao Ministério das Cidades por falta de execução", lamentou Laguardia, que pretende distribuir uma cópia do filme para cada candidato à Prefeito de Natal nas próximas eleições como forma de mostrar os anseios da população que convive com os problemas do Alecrim.

 
A PESQUISA...

Laguardia encontrou bastante informação nas chamadas fontes oficiais (arquivos públicos, acervo de jornais e Instituto Histórico e Geográfico), mas teve certa dificuldade em conseguir imagens históricas - boa parte do acervo de imagens apresentado em "Cais do Sertão" foi amealhado de particulares. 

Sobre os destaques do documentário, ele ressalta, em primeiro lugar, a importância econômica. A questão cultural (da efervescência ao declínio), os conflitos e as figuras emblemáticas e até folclóricas também estão entre os assuntos abordados. "São detalhes pitorescos e curiosidades contadas pelos moradores, tipos e personagens que fazem ou fizeram parte do cotidiano, como os chamados 'cabeceiros', que carregavam produtos comprados na feira na cabeça, em uma época quando o transporte era escasso. Valorizamos todos esses personagens", disse.

O documentário contou com patrocínio do Grupo Vila, através da Lei municipal Djama Maranhão de Incentivo à Cultura, e apoio da Fundação Capitania das Artes, que cedeu equipamento para edição das imagens. Responsável pelas pesquisas, roteiro e direção, Paulo Laguardia foi assessorado por equipe formada por Marcelo Barreto (fotografia), Rogério Vital (cinegrafista), Bruno Sarmento (edição), Adriana Amorim (produção) e Danielle Brito (direção de produção).

DOCUMENTÁRIO É COSTURADO POR HISTÓRIAS, POESIAS E CANÇÕES

A dinâmica do documentário é entrecortada por notas históricas, citações, poemas e músicas que falam sobre o Alecrim. A cantora Nara Costa declama poesia de François Silvestre sobre o bairro, o pesquisador e folclorista Gutenberg Costa fala sobre a visão preconceituosa para com o Alecrim e afirma que boa parte dos problemas percebidos no Alecrim estão relacionados "à falta de resistência da população" quanto à cobrança por soluções; e na "falta de atenção dos gestores". Os historiadores Luciano Capistrano e Job Neto; a arquiteta urbanista Maria Eleonora Macedo; o professor universitário João da Mata, cujo pai era feirante e trabalhava na famosa feira do bairro; e o músico Reinaldo Azevedo, guitarrista da Banda Anos 60, que fala sobre a vida cultural do bairro, também estão entre os depoentes do filme.

Have a nice weekend!